terça-feira, 21 de janeiro de 2014

VAMOS DAR UM ROLE?!



As metrópoles são os lugares onde a segregação espacial é mais visível, vivenciada e patrocinada. Estudiosos das mais diversas áreas, em especial as humanidades tem se dedicado a investigar tal situação e produzido trabalhos que nos ajudam a entender porque a sociedade cria tais espaços e os legitima. 

O arquiteto e urbanista Flávio Villaça, por exemplo, afirma que uma das características mais marcantes das metrópoles brasileiras é a segregação espacial das classes sociais em áreas distintas da cidade. Basta uma volta pela cidade – e nem precisa ser uma metrópole – para constatar a diferenciação entre os bairros, tanto no que diz respeito ao perfil da população, quanto às características urbanísticas, de infra - estrutura, de conservação dos espaços e equipamentos públicos. A segregação também tende a enfraquecer as relações sociais, o contato com o diferente e a tolerância, além de inúmeros problemas como a desigualdade em si e com isso a violência. 

O filósofo Jean Lojkine identificou três tipos de segregação: uma oposição entre o centro e a periferia, uma separação cada vez mais acentuadas entre as áreas ocupadas pelas moradias das classes mais populares e aquelas ocupadas pelas classes mais privilegiadas e uma separação entre as funções urbanas, que ficam contidas em zonas destinadas a funções específicas como comercial, industrial, residencial, dentre outras.

Já Henri Lefebvre, filósofo e sociólogo francês em uma obra publicada em 1967 afirma que um dos direitos humanos básicos é o direito à cidade; isso significa que a vida na cidade é uma experiência a que todos os seres humanos têm direito, quer saibam disso, quer não.

Para melhor entender a segregação espacial é necessário também conhecer os não-lugares. Quando o antropólogo Marc Augé (1994) afirma que “a cidade é um mundo ”, significa que ela contém simultaneamente um espaço simbolizado e praticado pelos indivíduos, e outro, que reflete todos os traços do mundo atual. É neste jogo, entre interior/exterior, comunidade/sociedade que a cidade emerge. Para além da liberdade e poesia que a cidade permite, ela é também o reflexo das transformações sociais e econômicas da sociedade. A construção de espaços de circulação e de consumo, desligados do território e das pessoas que lá habitam, implica segundo Augé três grandes riscos: a uniformidade, a generalização e a implosão do espaço urbano.

Busco de forma muito simples, sem querer ser simplista, um fundamento científico para compreender os “rolezinhos” que estão pipocando pelas grandes cidades brasileiras. E acho que os compreendo. É como diz o Mestre Geógrafo Milton Santos: Existem apenas duas classes sociais, as do que não comem e as dos que não dormem com medo da revolução dos que não comem. Esta simbologia é oportuna à referência ao símbolo máximo das aspirações sociais, os shoppings centers, os quais terminaram sendo imaculados pela presença indesejável no seu interior da massa que integra os “rolezinhos”.

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