Por: Anna Karina Cavalcante.
Acredito que não posso ser feminista porque sou homem; mas posso sim ser
apoiador e divulgador da luta. Foi e é por causa de grandes mulheres
aguerridas que direitos e respeito foram conquistados. Essas vitórias
são de todas as mulheres inclusive daqueles que ignorantemente se dizem
anti-feministas. As mulheres não são coisas, não são objetos e muito
menos bibelôs. Portanto é importante e necessário que o conhecimento, a
formação e a politização das mulheres sejam ações permanentes para
impedir o aumento da violência contra as mesmas; algo que infelizmente é
promovido pelo atual presidente do Brasil.
Povo bonito, leiamos o artigo da professora Anna Karina Cavalcante publicado no jornal OPOVO; trata dessas questões; é uma aula.
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O quadro de ódio a mulheres (misoginia) é estarrecedor. O Brasil sai
de 2019 com o título de campeão da América Latina e Caribe em violência
contra mulheres. Segundo dados do Anuário de Segurança Pública de 2019,
o ano de 2018 foi o mais violento contra as mulheres desde pelo menos
2009. Foram mais de 180 estupros por dia.Cento e oitenta! Isso
oficialmente. A cada hora mais de sete mulheres foram violentadas e
dessas mais de cinco foram menores de 17
anos.Isso mesmo. Mais de 71% das vítimas foram jovens de até 17 anos
e,entre elas, o maior grupo foi de meninas de até NOVE anos. Crianças!
A imensa maioria desses estupros acontecem, não no meio da rua, em
becos escuros, tarde da noite, motivados por roupa curta,por estar
andando sozinha ou por embriaguez. Nem tão pouco, a maioria dos
estupradores são desconhecidos, com armas apontadas para as cabeças das
vítimas. Lembram que a maioria das vítimas são crianças? É dentro de
suas casas que essas mulheres e meninas,tratadas como propriedades de
seus parentes, conhecem a violência moral, física e sexual.
Esses
dados são mais alarmantes quando consideramos que não há educação
sexual em nossas escolas e o governo federal esforça-se exatamente no
sentido de impedir que haja. Na medida em que se impede, censura, veta,
persegue a discussão de gênero e de sexualidade nas escolas, cresce o
ambiente que propaga violências e abusos.
Educação sexual não diz
respeito a ensinar como fazer sexo. É, entre outras coisas, ensinar
desde cedo a essas crianças que o sexo para elas NÃO pode, que os corpos
não devem ser violados, que é crime, é errado, é violência. A falta de
educação sexual leva a vulnerabilidade. Quando alguém é contra a
educação sexual nas escolas, na prática, está defendendo que as vítimas
sigam vulneráveis, com medo e no silêncio, ou seja, defende a
continuidade dos abusos sexuais.
A violência contra mulheres e,
sobretudo contra nossas meninas, é no fim das contas, uma decisão
política de governantes e parlamentares, e até por isso, precisa e pode
ser parada. Pela vida das mulheres, por todas nós.
Anna Karina Cavalcante
Professora da rede estadual, feminista e ex-candidata ao senado pelo PSOL
annakarina.psol@gmail.com
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