sexta-feira, 18 de abril de 2014

Dias Grandes!

Sempre que chega a semana santa lembro das histórias que minha mãe conta. 

Quando era menina, isso nos idos 1940 tal data era carregada de zelo, cuidados e procedimentos. Os oratórios, as imagens de santos por exemplo, eram todos cobertos com lençóis, para que os mesmos não vissem o sofrimento de Jesus Cristo.

Aqueles palavrões, também chamados de "conversa feia" eram proibidos de serem pronunciados. Coisas do tipo: vá pra merda, vá pra puta que pariu, porra, caralho, filho da puta... não podiam ser pronunciados. O interessante é que as pessoas obedeciam. Medo dos castigos, de uma surra, respeito de verdade? Não sei, mas era assim. 

A casa era bem limpa na quarta-feira pois na quinta e sexta não podia por exemplo varrer, pois seria o mesmo que machucar o corpo de Cristo, já muito sofrido.

Jejuar era como respirar, vital. Um pequeno sacrifício em memória a Cristo. Os bares fechavam, procura-se evitar as discussões e brigas em casa e na rua, a grande maioria das pessoas se reuniam para rezar, orar, ir a missas e participar dos rituais. Era uma semana de reflexão e reclusão, mas principalmente de respeito em memória ao assassinato de Jesus.   

Havia um clima de dor, sofrimento e tristeza no ar. Realmente parecia dias santificados.

E, hoje? - Ah, hoje a bagaça é geral. Sexta-feira santa e sexta-feira demoníaca atualmente são expressões sinônimas. 

As pessoas continuam se reunindo? Sim, é lógico! E no centro da mesa litros e litros de vinho e panelas e panelas de peixe. As pessoas se entopem como se fossem bocas de esgoto ou fossas cheia de merda. No lugar das rezas e orações tem-se um misto de funks e forrós que nos convidam para beber, cair e levantar, ou ralar a "tcheca" no chão. E, embriagados por tudo e mais alguma coisa, as pessoas que vomitam serem cristãs, saem pelas ruas e estradas com o som dos seus carros a toda altura e a toda velocidade e,  também com alguns baseados de maconha e bombons de cocaína no bolso.

É, realmente a sexta-feira santa é sinônimo de morte.

Sábado, é de aleluia! 
- Ôba! Com o rabo cheio de cachaça vou também cheio de moral malhar o Judas!

E domingo, é páscoa! 
- Ôba! Vou encher o rabo de chocolate!

A mãe chama a Semana Santa de Dias Grandes. Não sei, talvez eu seja também um desses idiotas malhadores de Judas.

Mas, humildemente peço: - Jesus Cristo me perdoe.

Um comentário:

Vera Alves disse...

Nossa, me lembro muito das semanas santas da minha meninice! A mãe, ao pé de um fogão a lenha, preparando o peixe cozido e me dizendo que era pecado matar uma barata que estava perambulando pela cozinha.