As
metrópoles são os lugares onde a segregação espacial é mais visível, vivenciada
e patrocinada. Estudiosos das mais diversas áreas, em especial as humanidades tem
se dedicado a investigar tal situação e produzido trabalhos que nos ajudam a
entender porque a sociedade cria tais espaços e os legitima.
O
arquiteto e urbanista Flávio Villaça, por exemplo, afirma que uma das
características mais marcantes das metrópoles brasileiras é a segregação
espacial das classes sociais em áreas distintas da cidade. Basta uma volta pela
cidade – e nem precisa ser uma metrópole – para constatar a diferenciação entre
os bairros, tanto no que diz respeito ao perfil da população, quanto às
características urbanísticas, de infra - estrutura, de conservação dos espaços
e equipamentos públicos. A
segregação também tende a enfraquecer as relações sociais, o contato com o
diferente e a tolerância, além de inúmeros problemas como a desigualdade em si
e com isso a violência.
O filósofo Jean Lojkine identificou três tipos de segregação: uma
oposição entre o centro e a periferia, uma separação cada vez mais acentuadas
entre as áreas ocupadas pelas moradias das classes mais populares e aquelas
ocupadas pelas classes mais privilegiadas e uma separação entre as funções
urbanas, que ficam contidas em zonas destinadas a funções específicas como comercial,
industrial, residencial, dentre outras.
Já Henri
Lefebvre, filósofo e sociólogo francês em uma obra publicada em 1967 afirma que
um dos direitos humanos básicos é o direito à cidade; isso significa que a vida
na cidade é uma experiência a que todos os seres humanos têm direito, quer
saibam disso, quer não.
Para melhor entender a segregação espacial é
necessário também conhecer os não-lugares. Quando o antropólogo Marc Augé (1994) afirma que “a
cidade é um mundo ”, significa que ela contém simultaneamente um espaço
simbolizado e praticado pelos indivíduos, e outro, que reflete todos os traços
do mundo atual. É neste jogo, entre interior/exterior, comunidade/sociedade que
a cidade emerge. Para além da liberdade e poesia que a cidade permite, ela é
também o reflexo das transformações sociais e econômicas da sociedade. A
construção de espaços de circulação e de consumo, desligados do território e
das pessoas que lá habitam, implica segundo Augé três grandes riscos: a
uniformidade, a generalização e a implosão do espaço urbano.
Busco de forma muito simples, sem querer ser
simplista, um fundamento científico para compreender os “rolezinhos” que estão
pipocando pelas grandes cidades brasileiras. E acho que os compreendo. É como
diz o Mestre Geógrafo Milton Santos: Existem apenas duas classes
sociais, as do que não comem e as dos que não dormem com medo da revolução dos
que não comem. Esta simbologia é oportuna à referência ao símbolo máximo das aspirações
sociais, os shoppings centers,
os quais terminaram sendo imaculados pela presença indesejável no seu interior da
massa que integra os “rolezinhos”.
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