segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Metodologia Triangular



UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ
CENTRO DE EDUCAÇÃO
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM METODOLOGIA DO ENSINO DE ARTE
DISCIPLINA: METODOLOGIA DO ENSINO DAS ARTES VISUAIS
PROFESSOR: JORGE LUIZ SILVEIRA DE ARAÚJO
ALUNO: HENRIQUE GOMES DE LIMA



METODOLOGIA TRIANGULAR
 

Historicizando e conceituando a Metodologia Triangular


Desde as primeiras décadas do século XX no Brasil, o ensino das artes esteve voltado para a valorização do desenvolvimento da auto-expressão e da auto-descoberta. Muitas experiências positivas foram realizadas nesse sentido, e muitos equívocos foram cometidos. Nos anos 70, aflora entre os profissionais ligados ao ensino da arte, uma preocupação e um questionamento sobre a proposta educativa em arte centrada, apenas, no fazer. Sem negar a produção das manifestações artísticas nas diversas linguagens, teatro, dança, música e artes plásticas, os educadores iniciaram um processo de discussão e pesquisa que direcionasse o ensino também para o conhecimento da arte e sua apreciação.
Sobre essa questão, ou seja, esse absorver, sobre esse captar, é muito interessante analisar o que nos fala Da Vinci: "Não vês que o olho abraça a beleza do mundo inteiro? (...) É janela do corpo humano, por onde a alma especula e frui a beleza do mundo, aceitando a prisão do corpo que, sem esse poder, seria um tormento (...) Ó admirável necessidade! Quem acreditaria que um espaço tão reduzido seria capaz de absorver as imagens do universo? (...) O espírito do pintor deve fazer-se semelhante a um espelho que adota a cor do que olha e se enche de tantas imagens quantas coisas tiver diante de si." Nessa perspectiva, No final da década de 1980, Ana Mae Barbosa (1988) adaptou a proposta do Projeto Discipline Based Art Education (DBAE) para o que denominou de Metodologia Triangular, por envolver três vertentes: o fazer artístico, a leitura da imagem e a contextualização histórica da arte, consiste no intercruzamento desses três focos de aprendizagens advindos do ensino da história da arte, da apreciação de obras de arte e da produção artística.
Para Ana Mae Barbosa, "A produção de arte faz a criança pensar inteligentemente acerca da criação de imagens visuais, mas somente a produção não é suficiente para a leitura e o julgamento de qualidade das imagens produzidas por artistas ou do mundo cotidiano que nos cerca. (...) Temos que alfabetizar para a leitura da imagem. Através da leitura das obras de artes plásticas estaremos preparando a criança para a decodificação da gramática visual, da imagem fixa e, através da leitura do cinema e da televisão, a preparemos para aprender a gramática da imagem em movimento. Essa decodificação precisa ser associada ao julgamento da qualidade do que está sendo visto aqui e agora e em relação ao passado’’.
Essa preocupação em torno do conhecer, do apreciar e do fazer arte resultou no Brasil na metodologia triangular proposta por Ana Mae Barbosa, tendo como referência trabalhos desenvolvidos por ingleses e americanos, preocupados com um currículo que privilegiasse o fazer artístico, a história da arte e a análise da obra de arte, visando não só o desenvolvimento dos educandos, mas a suas necessidades e seus interesses. Dessa forma as atividades de arte na escola passariam a ter um significado para o educando, deixando de ser uma atividade incompreendida ou mero passa-tempo.

O Ensino e a Aprendizagem

É importante citar nessa abordagem de trabalho que as discussões que permeiam as questões sobre os referenciais devem sempre atentar para o caráter histórico-social da Arte-educação e também para o papel da arte na modernidade.
Pedagogicamente podemos concluir que o primeiro dos tripés da metodologia, o fazer artístico, tem estreitamente se identificado, na prática dos arte-educadores que professam a Metodologia Triangular, com aquilo que se convencionou chamar releitura: o aprendiz criança toma como estímulo para a sua criação artística não um qualquer objeto natural ou imaginário, mas sim uma obra de arte por direito próprio (uma pintura, um desenho, uma escultura, ...), que não é encarada como um modelo a ser fielmente copiado mas, essencialmente, como um “suporte interpretativo” para a produção de trabalhos autônomos (Barbosa, 1991, p.107).
A interseção da história da arte, leitura da obra de arte (crítica e estética) e fazer artístico num mundo cada vez mais ocupado pela imagem e seus ícones é fator essencial para o desenvolvimento cultural e para a formação de pessoas mais capazes de pensar inteligentemente acerca dos contextos. Relacionar arte ao seu meio ambiente, investigar e explorar situações e relações, formular hipóteses e realizar julgamentos se justificam no processo de experimentação e reflexão que a arte proporciona. A metodologia triangular, mais tarde designada por "abordagem", relaciona as quatro mais importantes coisas que as pessoas fazem com a arte: elas a produzem, elas a vêem, elas procuram entender seu lugar na cultura através do tempo, elas fazem julgamento acerca de sua qualidade."

            A função da arte na escola é formar o conhecedor, fruidor e decodificador da imagem, seja arte ou não. A produção artística traz muitas interrogações, que somente são respondidas através do olhar crítico, preparado e amadurecido no contexto que a História nos conferiu e argumentados nos julgamentos de valor.
Até o surgimento da Metodologia Triangular, com raras exceções, o ensino da arte resumia-se a um certo fazer artístico encarado como entretenimento, muitas vezes confundido com artesanato, com a produção de decorações e objetos para festas, principalmente em datas comemorativas. Era esse o tipo de fazer artístico que dominava as aulas de artes nos anos 70. Quem nunca viu crianças saindo das escolas na época da Páscoa com os rostos pintados e as cabeças enfeitadas por orelhas de coelho feitas com cartolina branca e recheadas de algodão? Este é apenas um exemplo, mas existem muitos outros.

Competências necessárias ao educador

Como chegar mais e melhor aos alunos fazendo com que as artes possam ocupar um papel mais central no ensino? Como fazer com que as artes toquem a sensibilidade deste aluno, frequentemente resgatando-o do desinteresse por um ensino de má qualidade que o joga para fora da escola? Como fazer com que o papel humanizador da arte possa fazer uma ponte com suas inquietações humanas e cidadãs, devolvendo o sentido à escola? É nesse contexto que a formação do professor de arte é outro ponto a ser citado, para entender como a prática docente desta disciplina assumiu essa forma: empobrecida, esvaziada de significado e distante da realidade dos alunos, conseqüentemente fraca e desestimulante até mesmo para os próprios professores. O professor não deve prescindir de sua própria condição de criador pois há de refletir sobre interesses, vivências, linguagens e modos de conhecimento em arte e práticas de seus alunos. É fundamental conhecer a quem seu conteúdo se dirige e também as teorias do desenvolvimento humano. O domínio do conteúdo específico de sua disciplina é fundamental para a realização de uma prática tranqüila e viabilizadora de uma sociedade inclusiva. É preciso ainda reconhecer procedimentos pedagógicos que auxiliam as manifestações estéticas e reflexivas. Faz-se necessário utilizar recursos avaliativos interessados na qualidade e na excelência no ensino da arte.

É ainda papel do professor, ajudar seu aluno a encontrar e construir sentido para as informações que recebe, cada vez menos através da escola, cada vez mais por meio do acesso às mídias digitais, visto que mesmo o aluno da rede pública já tem acesso à internet e a outras fontes midiáticas de informação. Educar, num contexto complexo, não significa apenas pensar-analisar-interpretar forma e conteúdo, meio e mensagem, mas significa igualmente sentir-agir-transformar, desse modo exercendo um papel recriador na realidade cotidiana. Isso implica entender a comunicação midiática como um processo não apenas válido, mas também poderoso de construção de conhecimento e de mediação social, nos espaços de produção e transformação da cultura. Antes de ser preparado para explicar a importância da Arte na Educação, o professor deverá estar preparado para entender e explicar a função da arte para o indivíduo e para a sociedade. 

A importância para o aluno

A arte é inerente ao ser humano, que se educa no contexto das manifestações culturais e se humaniza e se emociona à cada experiência ou vivência estética. Proporcionar tal condição aos estudantes, não apenas é importante, mas vital para sua formação enquanto ser. A linguagem não é apenas meio de expressão, ela é condição indispensável à organização da vida mental do ser humano. Portanto, aprender a lidar com o material artístico e transformá-lo em instrumento de linguagem é sem dúvida dar acesso a capacidade de expressão que todos nós possuímos. A arte é capaz de fazer flexibilizar pensamentos e relações onde o criador é sempre capaz de conectar e mudar as interações produzidas no mundo da imagem pré-concebida. Percebe as transformações e se percebe transformador. Ele se faz um solucionador de problemas e é essa capacidade que o torna apto a criar e a superar os seus próprios limites em seu processo de tensão.
Ao encontrar-se com o conhecimento formal de um curso de arte, o aluno traz todo o conhecimento adquirido ao longo de seus anos através de experiências e informações que recebe na rua, em casa, na instituição e na escola. No entanto, a dialética entre arte e educação segue rumos diferentes: a primeira, suscita o pensamento divergente, de natureza mutativa; a segunda, remete ao pensamento convergente, de natureza conservativa. Num contexto onde todas as informações

parecem estar em direções opostas e contrastantes, a arte é um elemento unificador e pacificador da aprendizagem.
Para Pimentel (1989),

Arte e liberdade devem andar de mãos dadas.
Arte não gosta de amarras, de lições de boas Maneiras.
De ficar calado.
De ficar inerte nos
Quadriláteros do mundo.
Arte é vôo sem limites. Rio sem margens.
Mar sem ilhas. Arte é liberdade. Arte é voar.

A atividade artística bem conduzida pelo professor aguça a criatividade, incentiva a coragem, fragmenta os bloqueios, possibilita a segurança e a desenvoltura, mobiliza e conduz ao aprendizado.

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