segunda-feira, 10 de agosto de 2009

O olho que observa dez visões da mesma cena.

Resumo do texto “O olho que observa:

dez visões da mesma cena.

De Donald W. Meinig.

“A superfície terrestre (ou qualquer uma outra que a ser pela humanidade ocupada) constituí-se de um grande manuscrito onde os grupos humanos realizam seus feitos e depositam seus sonhos”

(Henrique Gomes)

Os vários elementos constitutivos do espaço humano apresentam-se como um complexo de visões e idéias que variam de acordo com o tempo histórico, o interesse e a formação intelectual de quem observa esse espaço, resultando portando, em visões diferenciadas para uma mesma paisagem.

É nesse sentido que há aqueles que têm a paisagem como Natureza, grandiosa, absoluta, dominante e duradoura. O homem é minúsculo superficial, efêmero e subordinado. Nessa visão o homem é removido da cena há uma tendência em separar o mundo do homem do mundo da natureza. Essa visão é muito difundida no século XVIII, através do Romantismo que sempre faz alusão ao selvagem e coloca a paisagem como uma natureza pura, formosa, boa e bela.

Mesmo sendo vista por esse ângulo é perfeitamente possível considerar a paisagem como Habitat, o lar do homem. Onde este trabalha continuamente criando uma relação viável com a natureza. Cada paisagem é uma mistura do homem com a natureza. É sobre tal ideologia que surge os estudos da ecologia humana e do ambientalismo.

Sendo, portanto, a terra o jardim da humanidade e o homem seu cultivador, uma visão toma forma e considera a paisagem como um artefato, a marca do homem está presente em tudo. O homem é um criador o conquistador da natureza.

Mas a expressão da ciência é mais profunda que este utilitarismo na sua expressão manipulatória. Para o cientista engajado numa exploração sem fim do mundo em que vive a paisagem apresenta-se como um Sistema. Tudo que se apresenta constitui um conjunto de elementos variados ou classes de fenômenos. E o homem é sem dúvida, uma parte inexorável desses sistemas. Tal visão é um produto da ciência. A paisagem pode ser uma fachada na qual a visão penetra para revelar a anatomia das intrincadas redes, fluxos e interações. É vista, portanto, como um laboratório, uma estação experimental.

E que de acordo com outras visões, mas ainda pelo o lado da investigação, vê-se a paisagem como Problema. Não como um problema científico, mas como uma condição que necessita de correção. Para esse modo de olhar, encarar a cena que está a sua frente somente como laboratório é ser indiferente às necessidades humanas, pois cada paisagem invoca indignação alarme, é um espelho dos malefícios de nossa sociedade e clama por mudanças drásticas. Insere-se também uma visão humanística aliada à política que objetiva gerar movimentos populares contra as instituições que são vistas como indiferentes, egoístas ou simplesmente inertes.

Enquanto a ferramenta do ativista social é o folheto de propaganda retratando o pior que pode se visto na paisagem real, a do designer é de apresentar um plano, um esquema, que usa a arte e tecnologia para imaginar paisagens melhoradas e que os fazem ver a paisagem como riqueza. Onde o olhar de avaliador profissional atribui valor monetário a tudo que vê. Constitui-se de uma visão lógica e sistemática. Esta visão da paisagem como riqueza está, sem dúvida, profundamente enraizada na ideologia americana e reflete seus valores culturais. A marca de uma sociedade que é caracterizada por ser comercial, pragmática e quantitativa.

Senda a paisagem percebida dessa forma, quem observa de fora essa dinâmica, vê essa mesma paisagem como Ideologia. Onde os valores, símbolos de valores, idéias mestras, fundamentos filosóficos direcionam as ações. É uma visão que insiste que se nós queremos mudar a paisagem substancialmente, nós precisamos modificaras idéias que criaram e sustentam o que nós vemos. Tais mudanças requerem alterações profundas no sistema social.

Mas há também uma outra maneira até mesmo mais reflexiva e filosófica de analisar a mesma paisagem. Detalhada e concreta tal perspectiva tem a paisagem como História, onde tudo que se apresenta é um complexo registro cumulativo do trabalho da natureza e do homem em um dado lugar. Essa ótica procura os registros escritos, aprofunda-se na história natural e na geologia e até mesmo aos homens primitivos. O principal sistema organizador desse processo é a cronologia que funciona como um sustentáculo sobre o qual a história é construída. Assim à primeira vista, a paisagem não é um completo registro da história, faz-se necessário um trabalho de detetive para reconstruir com todos os fragmentos e peças os padrões do passado. Cada paisagem constitui uma acumulação de processos.

Complementando essa visão da paisagem como história há uma outra distinta em perspectiva e propósito e vê a paisagem como lugar, uma peça individual no mosaico heterogêneo da superfície terrestre. É uma paisagem como ambiente, que abrange tudo o que vivenciamos e que, como conseqüência, faz com que o observador cultive a sensibilidade para o detalhe, para a textura, a cor, toda as nuanças das relações visuais, e mais, porque o ambiente ocupa todos os sentidos, também os sons e odores de um inefável sentido de lugar como algo proveitoso. É uma visão antiga e fundamental para o geógrafo. Ele verá nas paisagens a variedade dos padrões dispostos em área e das relações: grupos, nós, dispersões, gradações, misturais.

Essa abertura dos sentidos para sentir o lugar, faz emergir a idéia de ver a paisagem como Estética. Onde apesar de existir muitas variantes para essa visão, todas tem em comum uma subordinação a algum interesse à identidade e à função das feições específicas com uma preocupação com suas qualidades artísticas. E essa qualidade artística é sem dúvida uma matéria muito controversa. A paisagem como estética é uma abstração, segundo a qual todas as formas específicas são dissolvidas na linguagem básica da arte. As versões e variações são infinitas nesta visão mais individualizada da paisagem.

Texto apresentado no disciplina de Geografia Cultural. Pós-graduação em Metodologia do Ensino de Geografia.

2 comentários:

Anônimo disse...

NÃO GOSTEI!

Ivete disse...

Henrique, eu gostei e foi útil para complementar uma citação que eu havia feito sobre o autor. Muito grata pela colaboração.

Atenciosamente
Profrª Ivete Ramirez
socióloga, geógrafa, jornalista científica atuo no DPG- Objetivo e UNIP Interativa (SP)