terça-feira, 15 de janeiro de 2019

Sentado à cadeira com minha mãe.

Grande satisfação publicar aqui neste espaço que utilizo para divulgar ideias e reflexões, o texto de Gustavo Queiroz. Rapaz que conheci em 2016 d.C onde dividimos a sala de aula. Se as oportunidades lhes forem favoráveis e se ele assim o desejar poderá tornar-se em um dos maiores escritores desta era. 
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Sentado à cadeira com minha mãe, comentei sobre esse texto,dizia eu:
-Olha,mãe,esse texto é duma sensibilidade que eu não via há muito tempo...
- 1958...papai falava muito pra mim desse ano. Nasci em 58 mas fui registrada em 59 só. - respondeu com naturalidade.
- O que tinha esse ano?
- O que tinha esse ano? Tinha fome.
Já ouviu falar de Baião de dois de milho? Na época arroz era só pra rico. Pobreza franciscana, só feijão com farinha e toucinho. Não à toa perdi dois irmaozinhos para a fome,o Afonso e o...o outro eu não lembro o nome. Morreram de fome. Nesse momento seus olhos gotejaram como os buracos da casa antiga. O Afonso tinha a idade do pequeno,seu sobrinho. Ele era assim da sua cor,entroncadinho. Vivia nas minhas pernas. Eu tive dois irmãozinhos que papai enterrou em frente a nossa casa em baixo do cajueiro,porque ele pensava que gente nunca ia sair dali. A casa ficava nas extrema,interior mesmo, tipo saindo da Amontada, só tinha estrada de terra, carroçal.
- Por quê você parou de me contar histórias,mãe?
- Você foi crescendo e foi deixando de ouvir. Depois eu vim pra cá aí parei mesmo de contar.
Minha mãe é daquelas mulheres que sustentam mais de uma casa. A necessidade laboral exigiu que ela dormisse fora de casa:
- Você sabe que a minha vontade era dormir com você,né, Gustavo? Contar histórias,conversar até dormir.
Não pode,infelizmente,não podemos.
Voltei meu pensamento ao palato dizendo:
- Você acha que o 58 deixou de acontecer?
- Não muito,porque ainda tem muita gente passando fome.
- Você tem fome de que?
- Fome tipo como?
- É que nem só de pão viverá o homem
-Ah.. saudade,família,papai,mamãe.
É só isso que temos. Só isso que tive, e, às vezes, nem isso pude ter.
Só temos nossa prole,e a tiram de nós. A fome,a guerra,a peste e finalmente se morte.
Era tudo mais simples quando só queríamos pão. Mas o bolor do pão ficou comestível e preferimos exigir que não tenha glúten do que haja pão em todas as mesas.
Me perguntam,sempre, por que olho tão intensamente para as pessoas,por que as analiso,por que olho tão profundamente.
Dona Raimunda, minha mãe, que me ensinou.
Pequenino,eu ouvia as histórias e fechava os olhinhos.
De olhinhos fechados eu aprendi a ver.


Me senti sensibilizado demasiadamente para não reproduzir o que pensei. Esta publicação me serve de lembrete para escrever.

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