quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

Educação sexual salva vidas e é urgente.*

Por: Anna Karina Cavalcante.
Professora de História da rede publica estadual e feminista.
Acredito que não posso ser feminista porque sou homem; mas posso sim ser apoiador e divulgador da luta. Foi e é por causa de grandes mulheres aguerridas que direitos e respeito foram conquistados. Essas vitórias são de todas as mulheres inclusive daqueles que ignorantemente se dizem anti-feministas. As mulheres não são coisas, não são objetos e muito menos bibelôs. Portanto é importante e necessário que o conhecimento, a formação e a politização das mulheres sejam ações permanentes para impedir o aumento da violência contra as mesmas; algo que infelizmente é promovido pelo atual presidente do Brasil. 

Povo bonito, leiamos o artigo da professora Anna Karina Cavalcante publicado no jornal OPOVO; trata dessas questões; é uma aula.


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O quadro de ódio a mulheres (misoginia) é estarrecedor. O Brasil sai de 2019 com o título de campeão da América Latina e Caribe em violência contra mulheres. Segundo dados do Anuário de Segurança Pública de 2019, o ano de 2018 foi o mais violento contra as mulheres desde pelo menos 2009. Foram mais de 180 estupros por dia.Cento e oitenta! Isso oficialmente. A cada hora mais de sete mulheres foram violentadas e dessas mais de cinco foram menores de 17 anos.Isso mesmo. Mais de 71% das vítimas foram jovens de até 17 anos e,entre elas, o maior grupo foi de meninas de até NOVE anos. Crianças! 

A imensa maioria desses estupros acontecem, não no meio da rua, em becos escuros, tarde da noite, motivados por roupa curta,por estar andando sozinha ou por embriaguez. Nem tão pouco, a maioria dos estupradores são desconhecidos, com armas apontadas para as cabeças das vítimas. Lembram que a maioria das vítimas são crianças? É dentro de suas casas que essas mulheres e meninas,tratadas como propriedades de seus parentes, conhecem a violência moral, física e sexual.
Esses dados são mais alarmantes quando consideramos que não há educação sexual em nossas escolas e o governo federal esforça-se exatamente no sentido de impedir que haja. Na medida em que se impede, censura, veta, persegue a discussão de gênero e de sexualidade nas escolas, cresce o ambiente que propaga violências e abusos.

Educação sexual não diz respeito a ensinar como fazer sexo. É, entre outras coisas, ensinar desde cedo a essas crianças que o sexo para elas NÃO pode, que os corpos não devem ser violados, que é crime, é errado, é violência. A falta de educação sexual leva a vulnerabilidade. Quando alguém é contra a educação sexual nas escolas, na prática, está defendendo que as vítimas sigam vulneráveis, com medo e no silêncio, ou seja, defende a continuidade dos abusos sexuais.
A violência contra mulheres e, sobretudo contra nossas meninas, é no fim das contas, uma decisão política de governantes e parlamentares, e até por isso, precisa e pode ser parada. Pela vida das mulheres, por todas nós.

Anna Karina Cavalcante
Professora da rede estadual, feminista e ex-candidata ao senado pelo PSOL
annakarina.psol@gmail.com


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