UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ
CENTRO DE EDUCAÇÃO
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM METODOLOGIA DO ENSINO DE ARTE
DISCIPLINA: METODOLOGIA DO ENSINO DAS ARTES VISUAIS
PROFESSOR: JORGE LUIZ SILVEIRA DE ARAÚJO
ALUNO: HENRIQUE GOMES DE LIMA
METODOLOGIA
TRIANGULAR
Historicizando e conceituando a Metodologia Triangular
Desde
as primeiras décadas do século XX no Brasil, o ensino das artes esteve voltado
para a valorização do desenvolvimento da auto-expressão e da auto-descoberta.
Muitas experiências positivas foram realizadas nesse sentido, e muitos
equívocos foram cometidos. Nos anos 70, aflora entre os profissionais ligados
ao ensino da arte, uma preocupação e um questionamento sobre a proposta
educativa em arte centrada, apenas, no fazer. Sem negar a produção das
manifestações artísticas nas diversas linguagens, teatro, dança, música e artes
plásticas, os educadores iniciaram um processo de discussão e pesquisa que
direcionasse o ensino também para o conhecimento da arte e sua apreciação.
Sobre
essa questão, ou seja, esse absorver, sobre esse captar, é muito interessante
analisar o que nos fala Da Vinci: "Não vês que o olho abraça a
beleza do mundo inteiro? (...) É janela do corpo humano, por onde a alma
especula e frui a beleza do mundo, aceitando a prisão do corpo que, sem esse
poder, seria um tormento (...) Ó admirável necessidade! Quem acreditaria que um
espaço tão reduzido seria capaz de absorver as imagens do universo? (...) O
espírito do pintor deve fazer-se semelhante a um espelho que adota a cor do que
olha e se enche de tantas imagens quantas coisas tiver diante de si." Nessa perspectiva,
No final da década de 1980, Ana Mae Barbosa (1988) adaptou a proposta do
Projeto Discipline Based Art Education (DBAE) para o que denominou de
Metodologia Triangular, por envolver três vertentes: o fazer artístico, a
leitura da imagem e a contextualização histórica da arte, consiste no intercruzamento
desses três focos de aprendizagens advindos do ensino da história da arte, da
apreciação de obras de arte e da produção artística.
Para
Ana Mae Barbosa, "A produção de arte faz a criança pensar
inteligentemente acerca da criação de imagens visuais, mas somente a produção
não é suficiente para a leitura e o julgamento de qualidade das imagens
produzidas por artistas ou do mundo cotidiano que nos cerca. (...) Temos que
alfabetizar para a leitura da imagem. Através da leitura das obras de artes
plásticas estaremos preparando a criança para a decodificação da gramática
visual, da imagem fixa e, através da leitura do cinema e da televisão, a
preparemos para aprender a gramática da imagem em movimento.
Essa decodificação precisa ser associada ao julgamento da qualidade do que está
sendo visto aqui e agora e em relação ao passado’’.
Essa
preocupação em torno do conhecer, do apreciar e do fazer arte resultou no
Brasil na metodologia triangular proposta por Ana Mae Barbosa, tendo como
referência trabalhos desenvolvidos por ingleses e americanos, preocupados com
um currículo que privilegiasse o fazer artístico, a história da arte e a
análise da obra de arte, visando não só o desenvolvimento dos educandos, mas a
suas necessidades e seus interesses. Dessa forma as atividades de arte na
escola passariam a ter um significado para o educando, deixando de ser uma
atividade incompreendida ou mero passa-tempo.
O
Ensino e a Aprendizagem
É
importante citar nessa abordagem de trabalho que as discussões que permeiam as
questões sobre os referenciais devem sempre atentar para o caráter
histórico-social da Arte-educação e também para o papel da arte na modernidade.
Pedagogicamente
podemos concluir que o primeiro dos tripés da metodologia, o fazer artístico,
tem estreitamente se identificado, na prática dos arte-educadores que professam a Metodologia Triangular, com
aquilo que se convencionou chamar releitura: o aprendiz criança toma
como estímulo para a sua criação artística não um qualquer objeto natural ou
imaginário, mas sim uma obra de arte por direito próprio (uma pintura, um
desenho, uma escultura, ...), que não é encarada como um modelo a ser fielmente
copiado mas, essencialmente, como um “suporte interpretativo” para a produção
de trabalhos autônomos (Barbosa, 1991, p.107).
A interseção da história da arte, leitura da
obra de arte (crítica e estética) e fazer artístico num mundo cada vez mais
ocupado pela imagem e seus ícones é fator essencial para o desenvolvimento
cultural e para a formação de pessoas mais capazes de pensar inteligentemente
acerca dos contextos. Relacionar arte ao seu meio ambiente, investigar e
explorar situações e relações, formular hipóteses e realizar julgamentos se
justificam no processo de experimentação e reflexão que a arte proporciona. A
metodologia triangular, mais tarde designada por "abordagem",
relaciona as quatro mais importantes coisas que as pessoas fazem com a arte: elas
a produzem, elas a vêem, elas procuram entender seu lugar na cultura através do
tempo, elas fazem julgamento acerca de sua qualidade."
A função da arte na escola é formar o
conhecedor, fruidor e decodificador da imagem, seja arte ou não. A produção artística traz muitas interrogações, que somente são
respondidas através do olhar crítico, preparado e amadurecido no contexto que a
História nos conferiu e argumentados nos julgamentos de valor.
Até
o surgimento da Metodologia Triangular, com raras exceções, o ensino da arte
resumia-se a um certo fazer artístico encarado como entretenimento, muitas
vezes confundido com artesanato, com a produção de decorações e objetos para
festas, principalmente em datas comemorativas. Era esse o tipo de fazer
artístico que dominava as aulas de artes nos anos 70. Quem nunca viu crianças
saindo das escolas na época da Páscoa com os rostos pintados e as cabeças
enfeitadas por orelhas de coelho feitas com cartolina branca e recheadas de
algodão? Este é apenas um exemplo, mas existem muitos outros.
Competências
necessárias ao educador
Como chegar mais e melhor aos alunos
fazendo com que as artes possam ocupar um papel mais central no ensino? Como
fazer com que as artes toquem a sensibilidade deste aluno, frequentemente
resgatando-o do desinteresse por um ensino de má qualidade que o joga para fora
da escola? Como fazer com que o papel humanizador da arte possa fazer uma ponte
com suas inquietações humanas e cidadãs, devolvendo o sentido à escola? É nesse
contexto que a formação do professor de arte é outro ponto a ser citado, para
entender como a prática docente desta disciplina assumiu essa forma:
empobrecida, esvaziada de significado e distante da realidade dos alunos,
conseqüentemente fraca e desestimulante até mesmo para os próprios professores.
O professor não deve prescindir de sua própria
condição de criador pois há de refletir sobre interesses, vivências, linguagens
e modos de conhecimento em arte e práticas de seus alunos. É fundamental
conhecer a quem seu conteúdo se dirige e também as teorias do desenvolvimento
humano. O domínio do conteúdo específico de sua disciplina é fundamental para a
realização de uma prática tranqüila e viabilizadora de uma sociedade inclusiva.
É preciso ainda reconhecer procedimentos pedagógicos que auxiliam as
manifestações estéticas e reflexivas. Faz-se necessário utilizar recursos
avaliativos interessados na qualidade e na excelência no ensino da arte.
É ainda papel do professor, ajudar seu
aluno a encontrar e construir sentido para as informações que recebe, cada vez
menos através da escola, cada vez mais por meio do acesso às mídias digitais,
visto que mesmo o aluno da rede pública já tem acesso à internet e a outras
fontes midiáticas de informação. Educar, num contexto complexo, não significa
apenas pensar-analisar-interpretar forma e conteúdo, meio e mensagem, mas
significa igualmente sentir-agir-transformar, desse modo exercendo um papel
recriador na realidade cotidiana. Isso implica entender a comunicação midiática
como um processo não apenas válido, mas também poderoso de construção de
conhecimento e de mediação social, nos espaços de produção e transformação da
cultura. Antes de ser preparado para explicar a importância da Arte na
Educação, o professor deverá estar preparado para entender e explicar a função
da arte para o indivíduo e para a sociedade.
A
importância para o aluno
A
arte é inerente ao ser humano, que se educa no contexto das manifestações
culturais e se humaniza e se emociona à cada experiência ou vivência estética.
Proporcionar tal condição aos estudantes, não apenas é importante, mas vital
para sua formação enquanto ser. A linguagem não é apenas meio de expressão, ela
é condição indispensável à organização da vida mental do ser humano. Portanto,
aprender a lidar com o material artístico e transformá-lo em instrumento de
linguagem é sem dúvida dar acesso a capacidade de expressão que todos nós
possuímos. A arte é capaz de fazer flexibilizar pensamentos e relações onde o
criador é sempre capaz de conectar e mudar as interações produzidas no mundo da
imagem pré-concebida. Percebe as transformações e se percebe transformador. Ele
se faz um solucionador de problemas e é essa capacidade que o torna apto a
criar e a superar os seus próprios limites em seu processo de tensão.
Ao
encontrar-se com o conhecimento formal de um curso de arte, o aluno traz todo o
conhecimento adquirido ao longo de seus anos através de experiências e
informações que recebe na rua, em casa, na instituição e na escola. No entanto,
a dialética entre arte e educação segue rumos diferentes: a primeira, suscita o
pensamento divergente, de natureza mutativa; a segunda, remete ao pensamento
convergente, de natureza conservativa. Num contexto onde todas as informações
parecem
estar em direções opostas e contrastantes, a arte é um elemento unificador e
pacificador da aprendizagem.
Para
Pimentel (1989),
Arte
e liberdade devem andar de mãos dadas.
Arte
não gosta de amarras, de lições de boas Maneiras.
De
ficar calado.
De ficar
inerte nos
Quadriláteros
do mundo.
Arte
é vôo sem limites. Rio sem margens.
Mar
sem ilhas. Arte é liberdade. Arte é voar.
A
atividade artística bem conduzida pelo professor aguça a criatividade,
incentiva a coragem, fragmenta os bloqueios, possibilita a segurança e a
desenvoltura, mobiliza e conduz ao aprendizado.
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