A escola é um sistema e todos os seus espaços e entranhas
são ou pelo menos devem ser ambientes de aprendizagem; do portão ao banheiro e
deste aos corredores passando pela cantina. A construção da educação escolar
não ocorre somente entre as paredes inertes, frias e quadrangulares da sala de
aula convencional; claro que há professores que junto com estudantes dão vida e
sentido a tijolos; mas nem sempre é assim. E partindo-se do princípio que a
escola é conjunto complexo onde as interações devem acontecer é que estamos
aqui fazendo tal provocação: a sala de meios multimeios é compreendida pela
comunidade escolar como um espaço educativo e de relevância para a formação
acadêmica dos educandos?
Segundo
bibliografias que tratam da temática o objetivo de espaços desta natureza, é servir
diretamente às escolas ou instituições de ensino com o mesmo rigor das
bibliotecas especializadas. Porém, sua finalidade é contribuir ativamente com a
educação colocando à disposição dos professores, alunos e demais interessados,
o material necessário para o enriquecimento do programa escolar, habilitando-os
a utilizar os livros e desenvolver a capacidade de pesquisa, além de sustentar
os programas de ensino. A biblioteca deve ser organizada para integrar-se com a
sala de aula no desenvolvimento do currículo escolar, e ter como objetivo
despertar a leitura desenvolvendo o prazer de ler, podendo servir como suporte
para a comunidade em suas necessidades de informação no cotidiano.
Segundo SOBRAL (1982), a pedagogia define biblioteca escolar
como força propulsora do processo educacional, instrumento que colabora com as
metas educativas e força responsável pelas diversas atividades empregadas no
desenvolvimento do currículo. De acordo com CASTRILLÕN (1985), o conceito de biblioteca
escolar parte da análise das funções de biblioteca com relação ao sistema
educativo, o currículo, a leitura, o desenvolvimento da capacidade de pesquisa,
da criatividade, com a aprendizagem permanente, a comunicação, a recreação, a capacitação
do professor, a informação educativa e a relação com a comunidade.
Para que os objetivos da educação possam ser atingidos, é necessário
que os meios utilizados sejam compatíveis e eficazes. Portanto, entre os
diversos recursos educativos encontra-se a biblioteca, considerada um recurso
indispensável para o desenvolvimento do processo ensino/aprendizagem e formação
do educando/educador. A importância da biblioteca para a o processo educativo está no seu vínculo indissociável;
enquanto a escola é o vínculo iniciador da instrução ou educação formal, a
biblioteca a complementa.
Conforme SILVA (1986), ensino e biblioteca não se excluem,
completam-se, uma escola sem biblioteca é um instrumento imperfeito. A
biblioteca sem ensino, sem a tentativa de estimular, coordenar e organizar a
leitura será um instrumento vago e incerto. Mas sabe-se que a maioria das
escolas públicas brasileiras não possui biblioteca e as que possuem, estão em estado
calamitoso de funcionamento, seja em nível de organização ou de atualização de acervos.
Esta situação de caos é complementada por uma distorção das funções do
bibliotecário dentro da escola, uma vez que a biblioteca geralmente é conduzida
e controlada, não por um especialista, mas por um professor em fase de se
aposentar ou em função remanejada, que o priva da sala de aula.
Portanto, não se pode alienar a biblioteca do processo educativo,
sem prejuízo para todos os interessados: o
professor, que perde um grande aliado em termos de apoio técnico pedagógico; o bibliotecário
ou responsável que vê seus esforços se perderem no vácuo das
"impossibilidades" e, principalmente, os alunos que deixam de ter um
grande instrumento de auxílio nas tarefas escolares e enriquecimento cultural
na ampliação de seus horizontes e na formação de uma visão crítica (NERY
et. al. 1989).
Concluímos por enquanto respondendo aos questionamentos
iniciais: as bibliotecas escolares ou sala de multimeios, não nos interessa
como a chamam; não é e não deve continuar a ter essa visão distorcida e tão
rasa quanto um pires daqueles(as) que veem esses ambientes como “depósito de
livros e de professores encostados” e que em pouco ou nada contribuem para a
formação dos estudantes. Agora também cabe aos profissionais desses lugares
trabalharem contra esta equivocada interpretação.
Arre égua!
Leia com mais profundidade sobre o assunto nas seguintes publicações:
- CASTRILLON, Silvia. Modelo flexível para um sistema nacional de bibliotecas escolares. Brasília: FEBAB, 1985.
- NERY, Alfredina et. al. Biblioteca escolar: estrutura e funcionamento. São Paulo: Loyola, 1989.
- SILVA, Ezequiel T. Leitura e realidade brasileira. 3. ed. Porto Alegre: Mercado aberto, 1986.
- SOBRAL, Elvira Barcelos. Recursos humanos para a biblioteca
escolar. In.: SEMINÁRIO NACIONAL SOBRE BIBLIOTECAS ESCOLARES, 1982, Brasília. Anais. Brasília: INL/UNB, 1982. p. 88-108.
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