segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Fundamentos Antrpológicos da Arte



UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ
CENTRO DE EDUCAÇÃO
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM METODOLOGIA DO ENSINO DE ARTE
DISCIPLINA: FUNDAMENTOS ANTROPOLÓGICOS DA ARTE
PROFESSOR: Dr. ALEXANDRE BARBALHO
ALUNO: HENRIQUE GOMES DE LIMA


Pensando a Arte como Sistema Cultural, a partir de Geertz


As variações de um povo para outro e também de um indivíduo para outro e de todas as demais capacidades humanas constituem uma experiência coletiva que transcende no tempo e no espaço. A bagagem intelectual com a qual ordenamos nossa experiência é muito variável e grande parte desta bagagem é culturalmente relativa, pois é determinada pela sociedade.
Nesse contexto as manifestações da Arte incorporam em sí um significado cultural e que pode, partir de uma realidade local, buscar coro em outros espaços e tempos. A compreensão dessa realidade, adquire um caráter de sistema a partir do momento em que ao explorar a sensibilidade percebe-se que sua formação é essencialmente coletiva e que suas bases são tão amplas e tão profundas como a própria vida social. A ligação entre arte e vida coletiva existe no plano simiótico e se materializam em uma forma de viver e traz ainda um modelo específico de pensar o mundo e com este relacionar-se.   
Por isso, a cultura é vista pelo autor como um sistema simbólico, oriundo da concepção simbólica da linguagem, por considerar que a presença do homem no mundo não é imediata, mas mediatizada pela linguagem. Nesse sistema, a linguagem desempenha funções de significação que estão na origem das elaborações dos sentidos do homem no mundo ao expressar as diferentes maneiras de sua relação com uma mesma realidade, e ao expressar de uma mesma maneira a sua relação com realidades diferentes. Ao falar, o homem não se limita a designar e a significar a sua relação com um mundo preexistente; constrói também sentidos novos já que as palavras não são etiquetas coladas a uma realidade singular, mas construções culturais destinadas a mediatizar a relação do homem com o mundo. E é na elaboração e construção desse mundo que a mediação com a realidade é feita sob os auspícios de uma epistemologia do senso comum, visto por Geertz como um sistema cultural, construído historicamente e, portanto, sujeito a padrões de juízo também  historicamente definidos e validados pela convicção de quem o possui. Afirma o autor que: (...) “Tornar-se humano é tornar-se individual, e nós nos tornamos individuais sob a direção dos padrões culturais, sistemas de significação criados historicamente em termos dos quais damos forma, ordem, objetivo e direção às nossas vidas. (...) Assim como a cultura nos modelou como espécie única - e sem dúvida ainda nos está modelando - assim também ela nos modela como indivíduos separados. É isso o que temos realmente em comum - nem um ser subcultural imutável, nem um consenso de cruzamento cultural estabelecido.” (GEERTZ,l989,p.64)
Segundo Geertz, o argumento do senso comum não se baseia em coisa alguma, a não ser na vida como um todo. Nesse caso, trabalha com a sabedoria coloquial que julga e avalia a realidade com bom senso, ou seja, lida com os problemas cotidianos com critério, inteligência, discernimento e reflexão prévia. O senso comum é, dessa forma, um modo de ver o mundo, através da aceitação desse mundo, dos seus objetos e dos seus processos exatamente como se apresentam, como parecem ser. Há também um desejo de atuar sobre esse mundo de forma a dirigi-lo para propósitos práticos, dominá-lo ou ajustar-se a ele. Neste universo, nem totalmente material nem puramente simbólico, ora fasto ora nefasto, cada coisa tem seu peso, seu lugar, seu significado, sua qualidade, seu sentido. O bom senso, assim, é uma capacidade que o sujeito possui de captar as realidades básicas através da experiência e de chegar a conclusões sensatas, sem fazer distinções entre a ordem natural, o domínio da linguagem, o mundo da cultura e a esfera da consciência individual. Não há diferenciação brusca e racional entre um universo material e um universo simbólico, visto que as necessidades orgânicas e as morais confundem-se no cotidiano da vida grupal, dando-lhe um realismo prático, um senso vivo dos limites e das possibilidades de ação que convergem para uma sabedoria cotidiana.
Para Geertz, “A limitação da análise interpretativa na maior parte da antropologia contemporânea ao aspecto supostamente mais ‘simbólico’ da cultura é um mero preconceito, nascido da noção, também presenteada pelo século XIX, de que o ‘simbólico’ se opõe ao ‘real’.(GEERTZ 1980:170)”. Em sua obra, o autor propõe uma refiguraçãodo pensamento social deslocando a análise dos produtos culturais de leis e instâncias para casos e interpretações ao trabalhar com o que denomina uma etnografia do pensamento, isto é, como as estruturas do pensamento mudam; como as províncias do pensamento são demarcadas; como as normas de pensamento são mantidas; como os modelos de pensamento são adquiridos e como o trabalho do pensamento é dividido para compor o que ele denomina do processo da intersubjetividade dos sujeitos da ação.
Essa  intersubjetividade é um traço objetivo, na medida em que não é mais subjetividade do autor d a obra, nem tampouco, apenas a subjetividade do apreciador, mas uma espécie de linguagem mediada dessas subjetividades. O caráter objetivo da intersubjetividade, portanto, vem do fato de ela ser uma mediação necessária entre objetividade e subjetividade, quando da situação de interpretação. Diz ainda que: “a escrita fixa o significado do acontecimento: “um pedaço da interpretação antropológica consiste em traçar a curva do discurso social; fixá-lo numa forma analisável”. Geertz parte de Max Weber e de sua concepção de cultura não codificável mas interpenetrável, para dizer que o homem é um animal suspenso em teias de significados que ele mesmo tece ao longo de sua existência social e histórica. São essas teias que definem a cultura e sua análise não deve se constituir numa ciência experimental em busca de leis, mas numa ciência interpretativa em busca de significados para os sujeitos da ação.
O entendimento desse sistema, “não como complexo de padrões concretos de comportamentos - costumes, usos, tradições, feixes de hábitos -, mas como um conjunto de mecanismos de controle - planos, receitas, regras, instruções, programas e pré-programas - para governar o comportamento. O homem é precisamente o animal mais dependente de tais mecanismos de controle, extragenéticos, fora da pele, de tais programas culturais, para ordenar seu comportamento”. A seu ver, a cultura engloba, no interior da prática cultural, todo um conjunto de códigos e convenções simbólicas onde as mediações são feitas, fundamentando relações de sentidos explícitos e implícitos, segundo os significados dados em cada momento. É em função disso que a cultura pressupõe que um campo semântico seja partilhado para que possa ser lida e seus sentidos interpretados, mesmo numa leitura de segunda mão, por sobre os ombros, isto é a leitura de uma leitura.
Para o autor interessa perguntar não qual o status ontológico de um fenômeno, mas o que foi transmitido com a ocorrência de cada teia dentro do sistema simbólico. Onde e para quem cada teia diz o que, em que momento, com qual intenção? Neste caso, a cultura - a totalidade acumulada de padrões culturais - em vez de ser acrescentada a um animal acabado, é um ingrediente essencial na produção desse mesmo animal. A cultura fornece o vínculo entre o que os homens são intrinsecamente capazes de se tornar e o que cada um efetivamente se torna. O autor trabalha na direção de uma antropologia interpretativa e propõe uma definição de cultura, a partir da noção de homem, numa tentativa de resolver o paradoxo entre a idéia de uma imensa variedade
cultural em contraste com a idéia de uma espécie humana única. Para isto, refuta tanto a idéia de uma forma ideal e essencial de homem natural, dotado de habilidades inatas, proposta pelo iluminismo, quanto a idéia de um homemconsensual (e, como consequência, a noção de consensus gentium), relacionada ao comportamento real, proposta pela antropologia clássica.
Conclui-se portanto, que as rugosidades do espaço e as impressões materiais e imateriais nele postas, constituem um complexo sistema de significados e que têm na arte uma das formas de se manifestar.

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