Por: Plinio Bortolotti *
A Igreja Católica no Brasil sempre teve atuação política, mas nunca
almejou governar o País. Nisso diverge dos evangélicos, como é o caso da
Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd), que tem um “plano de poder”,
dispondo de uma poderosa rede de TV, uma concessão pública, a serviço de
seu propósito.
Escrevi dois artigos sobre o assunto em meu blog. Um deles, “Bispo
Macedo quer tomar o poder e diz que foi Deus quem mandou” (14/5/2009),
comentando o livro “Plano de poder – Deus, os cristãos e a política”, no
qual ele escreve que a Bíblia é também “um livro que sugere
resistência, tomada e estabelecimento do poder político ou de governo”. O
outro, “Plano de poder da Igreja Universal está em marcha” (6/11/2016),
quando Marcelo Crivella venceu a eleição para a Prefeitura do Rio.
A pesquisadora Christina Vital, da Universidade Federal Fluminense
(UFF), estudiosa da atuação política dos neopentecostais, em entrevista
do jornal Folha de S. Paulo (31/10/2016), afirma que chegar à
Presidência da República é uma estratégia dos evangélicos para barrar no
Supremo Tribunal Federal (STF) temas de interesse das minorias, como
questões de gênero, homossexualidade, aborto, conceito de família, entre
outros assuntos da pauta conservadora.
Nas eleições do ano passado, as principais denominações
neopentecostais apoiaram a eleição de Bolsonaro. Recentemente, Edir
Macedo, chefe da Iurd, afirmou que o presidente foi “escolhido por Deus
para fazer o país mudar”.
O católico Augusto Aras, indicado pelo presidente da República, Jair
Bolsonaro, para assumir a Procuradoria Geral da República, foi o único
entre os candidatos que decidiu assinar uma carta da Associação Nacional
de Juristas Evangélicos (Anajure) comprometendo-se com “valores
cristãos”. Antes, Aras havia feito a via-sacra, expressando opiniões
agradáveis ao capitão, obrigatória para ser ungido por Bolsonaro.
Além disso, o presidente também prometeu nomear para a próxima vaga
no STF, alguém “terrivelmente evangélico” para mimar seus adeptos
religiosos, na direção do plano de poder planejado pelo bispo Macedo.
* Colunista e diretor institucional do O POVO.